EXPOSIÇÃO DIGITAL | AMADEO


Amadeo de Souza-Cardoso nasceu em Amarante, norte de Portugal, a 14 de novembro de 1887. Morreu em 1918 em Espinho, aos trinta anos de idade, vítima de uma pandemia.

A sua infância e adolescência passadas na quinta dos seus pais em Manhufe, pequena localidade amarantina, foram definitivas para o universo que viria a explorar na sua obra.

Aos 19 anos seguiu para Paris, para onde convergia grande parte da comunidade artística de então, aí abraçando as rupturas em tudo divergentes do que havia deixado para trás. Entre os boulevards luminosos, o ambiente enebriante do meio artístico da cidade-luz, epicentro da Europa de então, e a paisagem agreste do Marão com as suas tradições ancoradas numa religiosidade omnipresente, Amadeo cruza os dois imaginários simultaneamente complementares e antagónicos.

Amadeo revolucionário, pioneiro do Modernismo, o vanguardista que Almada Negreiros apresentou como ‘a primeira descoberta de Portugal na Europa do Século XX’  é o mesmo que expressa um enraizamento profundo nos costumes de Manhufe e uma afinidade pela tradição e pelo ruralismo Amarantino da época.

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MUSEU MUNICIPAL AMADEO DE SOUZA-CARDOSO

LÚCIA ALMEIDA MATOS/ FILIPA IGLÉSIAS 

 

AMADEO DE SOUZA-CARDOSO

AMARANTE

FESTAS E TRADIÇÕES

MÚSICA E ARTESANATO

 

Sem Título (Paisagem),

1910 (MMASC)

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“(…) tenho imensas saudades de deixar a minha terra, este sol, o céu profundamente azul, tudo isto que é cheio de uma beleza viva e fulgurante.”

“(…) Não imaginas como esta terra é cheia de cor, alegria, intensidade de alma, às vezes com pontas de loucura.” (Carta de Amadeo à sua mulher Lucie)[1]

 “Quando fui, pela primeira vez, à terra natal de Amadeo (…), a luz na paisagem e as cores nas proporções eram as mesmíssimas nos seus quadros de pintura.” Almada Negreiros, 1959

Amarante, cidade desde 1985, surgia referenciada nas Ordenações Afonsinas em 1250 como Vila de Amarante, terra de aquém-Marão. A Serra do Marão, que envolve Amarante, é uma formação montanhosa de origem xistosa e granítica, que atinge no seu ponto mais alto (a Senhora da Serra) os 1415 metros.

Amarante é hoje parte do distrito do Porto e cidade associada à figura de São Gonçalo, seu padroeiro. A tradição conta que naquele que era um local quase deserto, São Gonçalo levantou uma pequena ermida onde se abrigou em 1250 e onde viria a ser sepultado, e uniu as duas ribeiras do Tâmega com uma ponte, fazendo passar debaixo dos pés dos passageiros a braveza e a fúria do rio, que a tantos tinha tragado. Assim o conta o Sermão do Padre António Vieira a São Gonçalo de Amarante, pregado entre os anos 1682-1687. Neste Sermão, Vieira lembra que São Gonçalo deixou a pátria a caminho da Terra Santa, exaltando-lhe uma vida imortal que, como diz, é sinónimo de Amaranto, flor que não murcha. O Convento construído nesse mesmo local veio a transformar-se num importante centro de peregrinação, ali atraindo uma população que não mais parou de crescer.

Toda a cidade é uma realidade dinâmica que se altera todos os dias por todos aqueles que a compõem. Podemos ver a cidade e o seu património cultural, a paisagem, as tradições e o saber-fazer em toda a obra de Amadeo, de que são exemplos o Mosteiro de São Gonçalo com as suas abóbadas, torre e ponta característica, a ponte e arcos sobre o rio Tâmega, os seus barcos típicos (guigas), as múltiplas azenhas, açudes e moinhos.

 

[1] Cardoso, Amadeu de Sousa, 1887-1918. 1910?]. [Cartas de Amadeo a Lucie] [1908-1918?]. COTA(S): ASC 12/06. Espólio de ASC, Biblioteca de Arte da FCG.

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Amarante

Pequena e antiga villa, muito florescente antes da invasão francesa, como o provam as ruínas dos palacios incendiados por essa ocasião. Tem relativamente muito commercio; e de notavel a ponte sobre o Tâmega, o convento e a egreja de S. Gonçalo.

A viagem d’Amarante até Mezão-Frio oferece pontos de vista supreendentes, principalmente desde os Padrões do Teixeira.

D’ahi por diante, com a velocidade a que obriga o immenso declive, figura-se ao viajante que se vae precipitar no fundo d’um abysmo. Por todos os lados descem numerosos regatos, que se despenham da montanha para alimentar o rio Teixeira, que corre no fundo, fazendo verdadeiro contraste a sua placidez com o ruído dos regatos que o abastecem. Aos dois lados ficam serras d’uma altura espantosa e plantadas de lindíssimos vinhedos, formando em cada volta d’estrada novos e cada vez mais lindos panoramas, que arrebatam pela variedade das perspetivas (D.M.M.G. 1871: 56).

Guia do Amador de Bellas Artes,

guia cultural e turístico publicado em 1871.

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#Amadeo2020

O que vê nestas obras? Reconhece algum lugar nos quadros de Amadeo? Conhece alguma história que contribua para compreender melhor e que possa acrescentar à legenda de um quadro? Tem postais ou fotografias antigas, desenhos, pinturas ou outros registos de Amarante do tempo de Amadeo (1887-1918)?

Partilhe histórias e memórias. Envie para [mmasc@cm-amarante.pt] e contribua para esta exposição participativa.

 

Procissão Corpus Christi,

FCG

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“Acabei uma taboíta que me parece de bastante interesse uma procissão em S. Gonçalo de Amarante. As cores são muito vivas mas tudo está em relação”

(Carta de Amadeo à sua mulher Lucie, 1913[1])

 

Em Amarante, indelevelmente marcada pela forte presença do culto a São Gonçalo ao longo de séculos, as Festas do Junho remontam a tempos imemoriais. A população local contribui na preparação e organização desta celebração dinâmica e coletiva, enfeitando ruas, fachadas das casas, varandas e toda a sua envolvente. Estas coincidem muitas vezes com o Corpus Christi, uma das solenidades mais antigas do Cristianismo e que Amadeo imortaliza num óleo de 1913. O Corpus Christi é celebrado 60 dias após a Páscoa, na quinta feira seguinte ao Domingo da Santíssima Trindade, sendo assim uma festividade móvel que pode ocorrer entre 21 de Maio e 24 de Junho e que continua a realizar-se atualmente por todo o país. Como tantas outras, esta celebração religiosa tornou-se também uma festividade cíclica que agrega toda uma comunidade e é motivo de reunião e festa. Na obra de Amadeo podemos ver os mais importantes elementos que fazem parte da celebração do Corpus Christi: as figuras eclesiásticas com os seus paramentos, um grupo de fiéis envergando trajes festivos de cor branca e vermelha, estandartes, pálios; e os próprios arcos da famosa ponte de São Gonçalo, que nos ajudam a localizar o espaço em que decorre a ação narrada no quadro. Ao centro, entre o sagrado e o profano, num duelo que a todos os anos se repetia, São Jorge a derrotar o mal, ali representado pelo dragão, monstro mitológico, apodado de Serpe, Tarasca ou Coca. A Serpe ou Bicha Serpe, a que vários populares relembram com saudade apelidando-a de Santa Serpe, simbolizava toda esta representação do imaginário popular de Amarante. Com uma cabeça em madeira e o corpo feito de uma grande armação coberta com um pano preto, a Serpe era movida por rapazes que se escondiam no interior, como a obra de Amadeo bem mostra. Símbolo do mal com raízes no Antigo Testamento, a Serpe terá deixado de figurar na Procissão no final da década de 1930, sendo hoje desconhecida das gerações mais jovens.

 

[1] Carta de Amadeo a Lucie, 1913. Espólio ASC – Biblioteca de Arte, Fundação Calouste Gulbenkian.

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Em Amarante, o imaginário popular alimenta-se de histórias recriadas ou contadas, de lendas populares, de lugares do sagrado, de imprecações a Santa Bárbara e a todos os santos (quando se risca o céu de fogo), de casinhas de mouros, de pedras baloiçantes (como a de Pidre), pegadinhas de S. Gonçalo, de barcas de passagem, de pegos e redemoinhos e rol de afogados, de “infernos” de azenhas, de corredores da noite, de bruxas e de loucos e lobisomens, de novenas e clamores, de rezas e esconjuros, de “cantigas ao desafio”, de máscaras no Entrudo, de crimes e remorsos…

António Cardoso (em Diálogo de Vanguardas, 2008: 41)

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#Amadeo2020

O que vê nestas obras?

Tem postais, fotografias, desenhos, ou conhece alguma história que contribua para compreender melhor estas obras de Amadeo?

 

O Parto da Viola,

FCG

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Do início ao fim do seu percurso artístico a música esteve sempre presente na obra de Amadeo, designadamente através da representação dos instrumentos tradicionais portugueses. Outras formas de produção artesanal, tais como objetos em barro e bonecas de pano vestidas de traje típico, atravessam a sua obra e enriquecem a composição.

 

Em Amarante e regiões circundantes a viola era e continua a ser o instrumento mais popular, ali surgindo modelos típicos como a “viola braguesa” e a “viola amarantina”. Instrumento para dedilhar que acompanha ritmos, faz harmonias e serve, sobretudo, para acompanhar um cantor-contador de histórias, assume especial relevância nos eventos festivos. Amadeo pintou inúmeras guitarras, violas, violinos, cavaquinhos, bandolins,  assim como artefactos e objetos de barro que ganharão importância sobretudo a partir do ano de 1916 nas três obras denominadas Canção Popular e em Parto da Viola. Em composições ricas de cor e detalhe, Amadeo pinta frutos de verão, flores, bonecas e objetos de artesanato típicos dos mercados rurais e da arte popular portuguesa, como os cântaros, braseiras e assadores de castanhas em barro. Objetos comuns no quotidiano rural, hoje com uma função maioritariamente decorativa, podemos ver que muitos destes objetos de barro pintados por Amadeo se assemelham aos modelos típicos do processo de fabrico de Louça Preta de Gondar (freguesia de Amarante).

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#Amadeo2020

O que vê nestas obras?

Reconhece algum instrumento musical ou artesanal nas obras de Amadeo?

Tem postais, fotografias, desenhos, pinturas, ou conhece alguma história que contribua para compreender melhor e que possa legendar ou acrescentar mais informações a estas obras de Amadeo?

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por thesign

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